sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Azeite em frituras?

por Alana Siqueira
Pergunta do internauta:
Gostaria de saber se o azeite de oliva pode ser aquecido, pois li em um livro que ao ser aquecido é liberado uma substância, se não me engano, chamada acroleína, que segundo o autor é cancerígena.
Resposta:
É isso mesmo! Todo óleo tem seu ponto de fumaça, que é a temperatura máxima que agüenta até começar a se degradar e liberar a acroleína, ou seja, ela não é só liberada no aquecimento do azeite e sim de todos os óleos, dependendo da temperatura. A legislação brasileira limita a temperatura de fritura à 170ºC, porém ponto de fumaça do azeite é bem mais baixo e é por isso que quanto menos aquecido for o azeite na sua extração melhor será a sua qualidade. Sendo assim, as qualidades nutricionais do azeite são garantidas quando é consumido em baixas temperaturas.
O processo de fritura do azeite leva a formação de substâncias com reconhecida atividade tóxica, sendo aterogênica (favorece a aterosclerose) e carcinogênica (favorece o câncer), pois apresentam a capacidade de se ligar a diversas moléculas no organismo, provocando modificações em proteínas, lipídeos, carboidratos e em outras reações. Essas alterações acabam gerando lesões do material genético e mutações.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Ferro em excesso?

por Carolina Sartori, Marina Biaggini, Munique Carvalho e Prof.ª Marina Ito
Pergunta do internauta:
Gostaria de saber se a alta absorção de ferro pelo organismo pode ser proveniente somente de uma alimentação inadequada (excesso deste na alimentação de um modo geral) ou deveria estar acompanhado de uma disfunção.

Resposta:
A deficiência do ferro é um problema de saúde pública, mas o excesso também pode ser preocupante, segundo os estudiosos no assunto. Um dos motivos é uma predisposição genética para o acúmulo desse mineral no organismo.

O ferro é um elemento essencial para processos metabólicos. Ele é absorvido no duodeno (parte do intestino) e distribuído para os tecidos do corpo. Nos tecidos ele é usado e o que sobra é armazenado dentro de proteínas específicas chamadas ferritinas. Qualquer disfunção nesse processo pode acarretar uma série de problemas, tanto em relação à deficiência quanto ao excesso.

Assim, além de ser imprescindível, o ferro é extremamente tóxico. A sua toxicidade é atribuída principalmente ao alto potencial de gerar radicais, que podem desencadear doenças como câncer, cardiopatias e outras. Para evitar prejuízos à saúde a sua quantidade é controlada durante a absorção, o transporte e o armazenamento.

Apesar da absorção do ferro ser aumentada por ácido ascórbico (vitamina C), proteína animal, etanol, ácidos orgânicos, entre outros, uma dieta sem suplementação de ferro dificilmente atinge níveis prejudiciais deste nutriente, seja por ingestão ou por absorção aumentadas. A maioria das pessoas absorve somente a quantidade de ferro necessária para compensar as perdas diárias deste nutriente pelas fezes, suor, cabelos, descamação da pele e menstruação.

Em algumas situações fisiopatológicas a absorção de ferro pode ser aumentada. Em alguns casos como na anemia por deficiência de ferro, baixa ingestão de ferro e estoques baixos de ferro corpóreo o organismo trabalha aumentando a absorção numa tentativa de normalizar os estoques. Em outros casos a demanda por ferro é aumentada por alguma necessidade como durante o crescimento ou gravidez. A alta secreção ácida gástrica, presente em alguns tipos de gastrite, favorece a absorção desse mineral pelo organismo.

A mulher tem uma probabilidade ainda menor de ter excesso de ferro antes da menopausa, pois a menstruação acaba eliminando ferro do organismo. Estudos mostram que doenças relacionadas ao estresse oxidativo (devido à presença de radicais) são menos comuns em mulheres antes da menopausa do que em homens com a mesma idade, no entanto quando se compara ambos os sexos a partir dos 50 anos não se observa mais essa diferença. Além disso, quase não se fala em anemia em idosos, pois com o decorrer dos anos o organismo aumenta o armazenamento de ferro e a deficiência se torna cada vez mais difícil.

Porém, apesar do fino controle do ferro, uma parcela da população tem predisposição genética para o armazenamento corporal excessivo de ferro. Essa condição é chamada de hemossiderose ou hemocromatose e ocorre quando um defeito genético deixa de controlar a absorção de ferro intestinal. Quando há excesso crônico da oferta de ferro que exceda a capacidade de armazenamento do organismo o ferro combina-se com fosfatos e hidróxidos, formando a hemossiderina (agregados de ferritina) que se deposita no fígado e no coração, tornando esses órgãos sobrecarregados e fisiologicamente alterados.

O tratamento envolve o emprego de quelantes de ferro, que são substâncias que impedem a absorção do ferro, e o controle alimentar. Assim, a redução de carne vermelha para 3 vezes na semana é uma medida importante, uma vez que ela tem uma maior concentração de ferro. Comer alimentos ricos em ferro sempre associados com fibras também é uma forma de reduzir a absorção de ferro, pois as fibras se ligam ao ferro e impedem a sua absorção.

Um fato a se observar para essas pessoas é a fortificação de farinhas com ferro, uma medida adotada no Brasil desde junho de 2004 e que atinge não somente as pessoas com deficiência de ferro. Muitos estudos estão sendo realizados para avaliar o impacto da fortificação de farinha nas pessoas saudáveis, mas nenhum ainda foi concluído.

Fontes:
- TIRAPEGUI, J. Nutrição: fundamentos e aspectos atuais. 2 ed. São Paulo. Editora Atheneu, 2006.
- LOBO, A S; TRAMONTE, V L C. Efeitos da suplementação e da fortificação de alimentos sobre a biodisponibilidade de minerais. Rev. Nutr. vol.17 no.1 Campinas Jan./Mar. 2004. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732004000100012&script=sci_arttext&tlng=pt
- DUNN, L L; RAHMANTO, Y S; RICHARDSONS, D R. Iron uptake and metabolism in the new millennium. Science Direct 2006 vol. 17 n2
- DUTRA-DE-OLIVEIRA, J E. Ciências Nutricionais. Ed. Sarvier. 2003